Um dos maiores filósofos, Daniel Dennett foi um dos primeiros a questionar o sonho lúcido. Para Dennett¹, na época da publicação de seu texto(1978), o sonho lúcido nada mais era que apenas mais um tema de sonho como qualquer outro.
De fato a idéia de Dennett não só era um belo argumento para contestar a existência dos sonhos lúcidos – pelo menos até sua comprovação – assim como ainda serve para ajudar a identificar um tipo de sonho que pode trazer a ilusão da presença da consciência.
Assim… é possível alguém sonhar que teve um sonho lúcido e não ter ficado consciente no sonho? Essa questão intrigante já foi debatida “aqui” nosso Fórum de sonhadores lúcidos. E partindo daquelas argumentações muito bem colocadas pelos companheiro(a)s do fórum, mais os textos do Dennett², pode-se elaborar essa interessante perspectiva:
Quando se sonha que teve um sonho lúcido, o sonhador não estaria munido de capacidade de raciocínio, reflexão ou memória da vigília. Seria apenas um sonho com esse tipo específico de tema, no qual há crença de ter ficado consciente, porém sem o comportamento reflexivo-mental típico de alguém desperto.
![]() |
Outra cena do filme Dreamscape – A Morte nos Sonhos, de 1984. |
Exemplificando, em um sonho hipotético:
(…)percebi que estava sonhando e voei. Nesse momento notei estar nu e ao olhar para baixo crianças soltavam risadas, para minha total vergonha. Tentei sair desesperado dali, porém acabei pousando lentamente e chorei.
Afinal posso sonhar que tinha uma super-memória, sonhar que era um grande gênio de absurda inteligência ou fenômeno criativo musical… sem que eu realmente tenha atingido essas habilidades. Da mesma maneira posso ter sonhador que fiquei consciente!… Porém ao analisar o sonho, como no exemplo acima exposto, evidencia-se a ausência de elementos básicos da consciência, como o raciocínio focado na percepção de que tudo era apenas um sonho e a memória de que na verdade eu estava dormindo na minha cama.
Outros relatos típicos são os sonhos em que o sonhador pareceu ter alguma percepção de que estava sonhando, mas imediatamente passa a confabular com outros personagens do sonho, eufórico com a novidade… e insiste em conseguir reações inteligíveis, chegando mesmo a ficar frustrado com as reações(???) dos seus próprios construtos mentais, para logo depois cair em algum tipo de comportamento contraditório para com a presença da consciência.
Para Ursula Voss, Windt(e outros)³, é possível estabelecer uma espécie de escala indicativa da presença da consciência ou da qualidade da lucidez no sonho. Esses fatores são: insight (nesse caso a percepção de se estar sonhando), raciocínio, memória, controle, tipos de emoção e autopercepção. Mas aqui já é tema para outro texto.
Parece evidente que possa existir diferentes graus de consciência nos sonhos, assim como no estado desperto. Uma boa ferramenta para ajudar a reunir a concentração no sonho (e talvez intensificar a consciência) é fazer planos no estado desperto. Procure planejar experimentos que possam oferecer algum leve desafio. Só o fato de conseguir se lembrar disso a partir do estado mental do seu sonho, poderá contribuir bastante para qualidade do seu sonho lúcido.
DENNETT, Daniel C. Brainstorms: Ensaios Filosóficos Sobre Mente e Psicologia. São Paulo: UNESP, 1978. p. 187-209
_________(1979): The Onus Re Experiences. Philosophical Studies 35: p. 315-318.
Voss, U., Schermelleh-Engel, K., Windt, J. M., Frenzel, C., & Hobson, J. A. (2013).
Measuring consciousness in dreams: the lucidity and consciousness in dreams scale.
Consciousness and Cognition, 22(1), 8–21.