Uma das onironautas com grande potencial para desbravar a consciência nos sonhos, talvez em especial o método FILD é a Elisete. Atua como professora de piano e teclado na Escola de Música Rafael Bastos. Era tecladista na banda Plug-In e agora prossegue seus estudos em música, buscando seu bacharelado em piano pela UDESC.
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É frequente encontrar entre os onironautas, grandes apreciadores de algum tipo de arte, seja a música, pintura, poesia, etc.. |
O relato que segue dessa onironauta, merece especial atenção. Causa empatia logo de início. Serve de exemplo também no esforço pelas anotações(eu também tenho que tomar vergonha e ser mais disciplinado nisso).
A exemplo do onironauta Felipe, nosso guitarrista e colaborador do blog, segue os relatos e rotinas preciosos, diretamente das anotações pessoais da Elisete:
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Elisete Vieira é professora de piano pela Escola de Música Rafael Bastos em Florianópolis. Onironauta iniciante nos sonhos lúcidos, apresentou um relato contagiante sobre suas investidas na anotação de seus fragmentos de sonhos até atingir sua primeira lucidez. |
”
EXPERIÊNCIA 1
Na noite em que iria testar o método(FILD), eu fui dormir um pouco tarde e não dormi muito bem. Tenho 2 gatinhos, sendo que um deles estava meio inquieto e vez ou outra miava dentro do quarto, e eu, com o sono meio leve, despertava logo. Então eu acordava e dormia várias vezes até que decidi fechar a porta do quarto com eles fora. Dormi e sonhei, mas foi sonho “piloto automático”. Nada de consciência. Não consegui concentração pra aplicar nenhum método por estar cansada, e deixei pro outro dia. Este que vou relatar é apenas um de vários fragmentos que tive:
Sonho (12/03/2012): A GAROTA CHATA – Parte I
“Estava como que num lugar público, tipo um refeitório ou um restaurante meio antigo. Eu estava em pé diante de um banco e uma turma ao redor da mesa conversando. Eu também conversava com eles. Atrás de mim um espaço de chão que separava outra mesa com bancos.
Veio uma moça passar pelo espaço de chão atrás de mim. Dava pra ela passar folgadamente, mas por birra ou por querer todo o espaço pra ela, começou a passar por trás de mim como se fossem pessoas em pé dentro de um ônibus lotado. Eu estava de costas para ela, sentia o que ela fazia e empurrava-a para trás, mas ela continuava passando e pressionando, só pra me encher a paciência.
Até que não sei como me livrei dela e comecei a dizer algo como: “Sai” (algo assim), e ao mesmo tempo apontava um objeto pra ela (parecia uma varinha do Harry Potter rsrs), onde cada vez que eu dizia “sai” apontando este objeto, apareciam umas manchas brancas no peito dela, e ela recuava.
Algo assim. Nada de sonho lúcido, só no automático.”
EXPERIÊNCIA 2 (manhã de 13/03) – Parte II
“Fui dormir um pouco mais cedo na noite seguinte. Quando vi que o gatinho “falador” começou a dar os primeiros miados eu já tirei os dois do quarto e deixei-os fora no ato. Rsrs. Apaguei a luz, fui pra cama, dei uma lida a mais no método e deitei. Eu apenas inverti a ordem de um dos passos, mas mesmo assim sei que funcionou. Rsrs.
Deitei logo de cara movimentando os dedos, ao invés de dormir e acordar pra fazer isso. Hehe. Mas acho que valeu, porque fiquei fazendo isso por uns poucos minutos e o meu corpo já começou a ter espasmos, daqueles que temos quando o corpo está começando a relaxar. E quando isso acontece comigo eu já sei que vou dormir rapidinho. Antes de adormecer, fiquei calmamente dizendo pra mim mesma: “vou me lembrar de me perguntar como cheguei naquele lugar, fazer o reality check, ter consciência de que estou sonhando e de ficar calma”.
Repeti mais umas duas vezes essa última frase, alimentando o sentimento de que nada poderia me fazer mal. Não deu outra, segundos depois dos espasmos eu quase apaguei direto, não fosse um pequeno probleminha: quando senti que ia ter uma paralisia do sono eu acordei imediatamente, nem deixei paralisar. kkkkk. Fiquei com o coração acelerado por uns segundos e me sentindo uma boba: “Como pôde ficar com medo sua boboca?”.

Resolvi tentar de novo, mas desta vez usei não apenas a consciência dos dedos, mas me lembrei de algo que o meu professor de piano me ensinou: que a gente deve se perceber bem na musculatura enquanto toca, pra ver se não está tocando de forma inadequada e previnir assim, tendinites da vida.
O principal é estar completamente relaxado pra tocar, mesmo nos trechos onde a musculatura é mais exigida. Aí comecei a perceber cada músculo do meu corpo, começando a soltar cada um deles, relaxando. Dos pés à cabeça. De repente minha respiração começou a diminuir, e quando vi, escuro total. Não sei quanto tempo levou essa parte, acho que foram as que antecedem a fase REM (posso estar falando bobagem, me corrija se estiver). Acho que foi porque meu primeiro despertar foi às 10:30h e fui dormir perto das 2h por causa da parada que dei em funçao da paralisia.

Quando despertei, estava acordada porque olhei as horas no celular e tava 10:30h sem problemas. Mas me vinham diversos flashes de imagens ou sequências de sonhos, e o que fiz foi ir deixando rolar e ao mesmo tempo tentando controlar pra não esquecer. Eu memorizava alguns e deixava rolar ao mesmo tempo. Até que vi que despertei mesmo e aproveitei pra anotar, porém anotei apenas palavras-chaves. Voltei a dormir e vieram outros. Fiz o mesmo. Aí o relato segue, primeiramente dos flashes:
O MINOTAURO E A VERDADE (1º sonho)
“Havia uma parede onde apareciam como que reproduzidos por um datashow, símbolos de animais. Eram enfileirados e vinham de baixo pra cima, um de cada vez. Às vezes eram inseridos novos símbolos. Entendi que aquilo representava os símbolos de competidores que estavam sendo selecionados naquela hora para um tipo de competição.
Cheguei num local (parecia uma pracinha na cidade onde trabalho, Florianópolis) e os animais estavam jogando jogo-da-velha (era essa a tal competição). Vi que havia um competidor jogando com um minotauro, e o competidor venceu.
O minotauro não gostou muito e começou a esbravejar. Todos falavam pra ele se acalmar e ele continuava esbravejando, até que tive que ir bem perto dele e gritar a todos os pulmões: “As pessoas não ouvem a verdade a não ser que se fale alto!”. Nisso me encontrei numa padaria próxima ao local da competição, e alguém que viu a cena veio me perguntar porque dissera aquilo. Não me lembro muito bem da resposta.
O GRITO (2º sonho)
Imediatamente ficou escuro e eu gritei “Você!”, a alguém que eu não via e não sabia quem era, e que havia me feito alguma pergunta que também não me lembro.
O MONGE (3o sonho)
Esse foi o mais divertido de todos. Quando me lembrava dele eu ria pacas! Do nada me vi num local que não me lembro, onde havia um monge tibetano tocando bateria na maior paulera e empolgação. kkkkkk
SOLILÓQUIO (4º sonho?!)
Ainda acordada, sem fazer força alguma pra pensar, me fluíram alguns pensamentos:
a) “É engraçado esse negócio de preencher os sonhos com o subconsciente” (acho que tá errado, é o inverso né? Mas na hora foi exatamente isso que pensei, e decidi não alterar na hora de escrever… kkk);
b) “Fiz o reality check das mãos e estava totalmente acordada!” (porque no meio dos flashes eu realmente fiz isso, e 5 dedos normais e perfeitos em cada mão)
A MENININHA QUE QUERIA SONHAR MAIS (5º sonho)
Não via, mas ouvia uma menininha dizendo pra sua mãe:
– Quero dormir mais horas pra ter mais sonhos!
– Não, chega. Senão isso vai interferir na sua qualidade do sono!
Nesse flash eu achei que a garotinha era eu, pois já estava beirando 8 horas de sono e queria realmente tentar prorrogar. Tudo isso eu estava completamente acordada e enquanto rolavam os flashes eu ouvia uma música na minha mente do Tears for Fears, versão do cantor Gary Jules, chamada “Mad World”.
O VÔO SÚBITO ( desta vez totalmente lúcida!)
“Não haviam compromissos naquela manhã (dia 13) e aproveitei pra esticar mais o soninho. Era em torno de 11:30h quando voltei a dormir. Havia ido ao banheiro no intuito de acordar, mas estava muito sonolenta ainda.
Parecia que eu precisava de exatamente mais meia hora de sono. Deitei, dormi e tudo rapidamente ficou escuro. Ouvi alguém falando uma palavra mas não lembro qual é. Porém a impressão física que tive era de um vácuo nos ouvidos. Depois ficou escuro de novo por um tempo e de repente me vi sobrevoando uma região, tipo um pequeno bairro, cheia de casas lindas e coloridas, o céu meio preto-azulado com estrelas lindas e brilhantes, árvores ao lado das casas.
Quando comecei a sonhar isso eu já estava em pleno ar, não precisei decolar! Subitamente ao início do sonho lúcido me vi perguntando: “Estou consciente? Estou consciente?”. Estava meio confusa por já entrar no sonho voando, mas mesmo assim decidi fazer o reality check das mãos.
Meio desajeitada por estar voando, pude percebê-las embaçadamente, e aí em seguida despertei. Fiquei mais um tempo na cama sem pensar em nada, observando meu corpo, sem mexê-lo, pra ver se dava pra continuar.
De alguma maneira eu sabia que essa fora a experiência da manhã, e que tinha mesmo acabado. Olhei o relógio: 12:08h! Havia se passado pouquinho mais de meia hora para ter tido esta experiência, sem mencionar que estava muito diferente quando despertei às 11:30h. Estava muito mais leve, alegre e motivada. ” “