Existe um debate que se prolonga ao longo dos anos a respeito da natureza dos sonhos lúcidos. E foi manifestada em uma questão intrigante colocada pelo sonhador lúcido Niro, em nosso Fórum sobre Sonhos Lúcidos:
“Não… Não estou perguntando o que é um sonho lúcido! Isso eu sei pois já os tenho há muito tempo.
Mas sim: Por que eles existem? Teriam alguma função na evolução humana?
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Qual a origem dos sonhos lúcidos? Poderia ser algum tipo de alteração cerebral/mental, com potencial evolutivo? Na imagem, cena do excelente filme A Cidade dos Amaldiçoados, com Christopher Reeve. |
Será que são frutos de um erro? Alguma “falha” no complexo sistema de nosso cérebro. Da qual alguns seres humanos tiram proveito para se divertir? Afinal de contas o normal, pelo menos, de acordo com a maioria, seria estar totalmente inconsciente durante o sonho.”
Uma resposta especulativa, de minha parte, vai no sentido de que ainda não existe uma pesquisa conclusiva abordando esse tema. Então a gente precisa reunir alguns indícios ou pesquisas pioneiras que se aproximem um pouco do tema e ver para que lado a coisa parece apontar.
Existe duas correntes trabalhando com hipóteses divergentes:
Stephen LaBerge: defendendo que o sonho lúcido é um estado mental, sustentado pela estrutura da fase REM do sono. Significaria que estar num sonho lúcido, ainda seria estar dentro da fase REM do sono.
Alan Hobson e Ursula Voss: defendendo que o sonho lúcido é um estado mental dissociado ou uma parassonia, no qual se equivale a outros estado híbridos do cérebro, como a paralisia do sono, alucinações hipnagógicas, auditivas, hipnopômpicas etc..
Porém, se partirmos apenas dessas duas perspectivas, será que iremos para lugares diferentes?!
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Análise de atividade cerebral entre os estados mentais quando acordados(o superior), no estado do sonho lúcido(meio) e em fase REM comum(não lúcido). Allan Hobson e Ursula Voss, classificam o sonho lúcido como um Estado Dissociado. |
Caso seja um Estado Mental, como defende o LaBerge, fica mais aceitável que o sonho lúcido pode mesmo se tornar consequência evolucionária. Um tipo de variação da nossa mente que pode se tornar dominante, uma vez que se mostre aproveitável e seja estimulada/disseminada na nossa cultura.
Caso seja um Estado Dissociado, como defendem Ursula Voss e Hobson, poderia ficar mais difícil tornar o sonho lúcido uma ferramenta de uso para nossa espécie. Afinal sendo um estado dissociado ou parassonia, sabemos que alguns deles são mais difíceis de se induzir… mas outros estados dissociados como a paralisa do sono, também podem ser induzidos…
Ainda assim, independente da natureza de origem ou da verdadeira raiz de onde está partindo o sonho lúcido, podemos identificar um sensível progresso tanto do número de pessoas interessadas, como praticantes e também das atenções de grandes universidades e centros de pesquisas para com o tema.
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Grandes centros de pesquisa e universidades na Alemanha, EUA, Inglaterra seguem se aprofundando nas pesquisas sobre sonhos lúcidos. No Brasil, tivemos o pioneirismo através da UFRN, com Sérgio Arthuro Rolim com sua tese “Aspectos Epidemiológicos cognitivo-comportamentais e neurofisiológicos do sonho lúcido”. |
Fica parecendo mais razoável para mim que o sonho lúcido, sendo um estado mental, sustentado pela fase REM ou um estado dissociado, é comprovadamente passível de indução, e por conseguinte, servirá como um grande instrumento de desbravamento da mente/cérebro/consciência, bem como uma longa lista de benefícios em áreas relacionadas.
Vale ressaltar por fim, ser típico da natureza/universo, trilhar caminhos não lineares, mas muitas vezes aleatórios, como raízes de uma árvore que se expandem em direções diversas, com apreço pela diversidade, a qual é ela quem acaba amplificando maiores chances de permanência/sobrevivência.
Vejo nossa consciência nos sonhos dessa maneira. É uma porta que nos foi oferecida e que independente da forma como foi originada, estamos começando sua exploração.
Referências Bibliograficas:
(1) – Signal-verified lucid dreaming proves that REM sleep can support reflective consciousness Intenational Journal of Dream Research, volume 3, nº 1. pg 26-27 (2010).
(2) – NEUROCIÊNCIA da Mente e do Comportamento. LENT, Roberto(Coordenador).
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.
FÓRUM(questão do Niro):
http://sonhoslucidos.forumeiros.com/t940-afinal-o-que-seriam-os-sonhos-lucidos